Haquaragach, o homem estranho
O homem que assalta guarda-chuvas é muito rápido, quase instantâneo. Tem nos olhos uma velocidade verde, a volatilidade da luz, o desembaraçamento das árvores no cabelo, a instantaneidade da natureza […]
O homem que assalta guarda-chuvas é muito rápido, quase instantâneo. Tem nos olhos uma velocidade verde, a volatilidade da luz, o desembaraçamento das árvores no cabelo, a instantaneidade da natureza […]
Palomar emergiu à porta com a mão estendida. As aves que trazia nos ombros, descolaram antes da sombra e regressaram ao mar. Deixaram-lhe marcas na carne – rasgos desse impulso -, pele esfiada […]
O que sei do amor, é que nada sei do amor para lá da aliciação, dos danos. Passa por mim sem que o veja, chama-me e esconde-se, espreita-me e esquiva-se, […]
Os pescadores tinham os olhos afundados nas sombras. Pendiam lanternas das mãos no porto de Digi Otok. Porque seguravam as lanternas, tudo o que ficava para lá da luz era […]
Algumas vezes regresso forçosamente aos mundos por onde já passei. Repentina, como se depois de uma longa caminhada, a meia distância ou para lá dela, subitamente fosse abalroada e despertasse, […]
“Penteia o cabelo Anippe, penteia-o até escorrer dele um rio de sangue, a tua pele uma colina de pedra e os teus olhos gemas de chumbo, a tua voz um […]
Quando levo demasiado tempo a escrever em pensamento, cresço mentalmente uma infinidade de estados, dialetos, sensibilidades, que jamais conseguirei escrever, traduzir em palavras, frases entendíveis, esquissos, símbolos. Falo de Maus e do mundo […]
Na profundidade do lago, ela amava, por isso gritava o que sofria, vergastava o corpo, sacudia os braços, atirava os olhos ávidos para fora, soltava-os em direcção ao infinito – […]
“A este lugar – disseram os deuses antes de estenderem os braços, abrirem as mãos -, chegarão todos os povos, de todas as línguas, para tomar desta poeira das estrelas […]
No mundo azul, apenas subsistem os pássaros. Nada é terrestre, nada é aquático, tudo é aéreo e diáfano. Apenas quem tem asas entra, pode prosseguir, pode permanecer. Para sair do […]
Quando sei que vens, varro muito bem o terraço. Sabes que quero muito que venhas e que gosto de varrer mais nesses dias. Varro, varro, varro como se me varresse também e me […]
Costumo encontrar mortos nos sonhos, vivos entre gente singular, cidades e mundos estranhos. Algumas vezes, ainda lhes falo, se posso, se mo permitem. Poucas vezes consigo perguntar-lhes o que quero, […]
Na planície, os cardumes passam céleres no tempo dos meus olhos. Levam as cores do arco-íris no reflexo das escamas, arrastadas pelo caminho anoitecido. Um arco colorido em movimento, na […]
Quando os dias são assim, áridos e extremos dentro das areias, amarelos e porosos, o deserto é mais verdadeiro, completo, as janelas sobre a planície são infinitas. As folhas que […]
«Minha querida Michèle, Hoje o meu tempo foi maior que todo aquele de que alguma vez beneficiei para dedicar a uma tarefa desta natureza. Maior, porque foi um tempo livre […]
Desde o anoitecer, o descerrar da tempestade, que Apolinário resiste – permanece prisioneiro do mesmo lugar, da mesma vontade arremessada. Desgarrado, brota e agiganta-se dentro da escuridão – vítima de […]
Em África, o Sol está mais próximo, como está o céu, a noite, o capim, estão as árvores, as aves, os mosquitos, os lagartos, as sardaniscas, os sapos, as águias, […]
E os homens sentaram-se todos. Ocuparam o espaço de cada degrau. Eram os Sapientes. Tinham óculos, bigode, pernas compridas, os pés entalados em sapatos envernizados, os pescoços mumificados em gravatas […]
O dia acordou branco. Branco e vazio. Branco, retocado de transparência. Há dias assim, de mistura vaga e indefinida. Dias em que imaginamos a alma à deriva sobre calotes de […]
Pai, faz um desenho. E o pai ri, feliz por pedirmos – a cara gorda, redonda, suada, cómica. Animado, afasta a cerveja sobre a fórmica amarela e pega sem jeito […]
O gato namora o papagaio – contempla-o, ronrona, mia-lhe, quere-o. Junto ao vaso dos trevos, que ao anoitecer baixam os corações para aconchegar as almas e dormir, enrola-se no cesto […]
Além, naquela direção, depois de todo este castanho, esta barrigada de terra revolvida, estes socalcos, pedras, poeira, carnação e suor – no limite do chão, no cabeço do morro, mesmo […]
Era o tempo em que o sonho preenchia o espaço da própria realidade. À espera, do lado de lá da porta da cozinha, do mundo espontâneo, vejo-o – alto, escuro, […]
As borboletas incandescentes são feitas de uma matéria mais ou menos volátil, luminosa e inexplicável – quase cor, quase chama, quase forma, quase corpo, quase transparência –, como quase tudo, […]
Havia uma fada no colégio – juro. Uma fada alta como uma amoreira, com os braços longos como ramos, mãos ágeis e livres como folhas, olhos profundos como frutos, lábios […]
by maura
Estou neste momento em Cegate, o deserto possível, o maior dos desertos. Cegate, que aglomera a infinidade de todas as areias, a firmeza de todas as pedras, a mansidão de todas as […]
Rumo – Lourenço Marques. Já estamos todos no carro – mãe, pai, mana e eu -, dentro do Valiant branco, prontos para avançar. A casa está fechada e o carro cheio […]
Há dias assim. Sou uma espécie de Palomar à beira-mar – parada com uma espada desembainhada espetada em mim. Eu sei, não é desta forma que reza a narrativa, mas hoje […]
O pássaro azul não é azul. O pássaro azul é cinzento – é azul dentro da sua vontade. É cinzento mas quer ser azul, por isso entende que esse direito […]
Tenho um amante feito de tempo. É alguém assim mais ou menos como eu, mais ou menos da mesma estatura e que está sempre comigo – tem tempo. È um […]
by maura
Por culpa de um acordeão eu sou e não sou. Um velho acordeão Hohner, que guardo desamparado a um canto, disfarçado entre o pó, resmas de manuais, solfejo e pautas amarelecidas, […]
by maura
Para começar a escrever só preciso da primeira palavra – a única palavra importante dentro da primeira frase. Pode ser uma palavra qualquer – nome de coisa ou lugar, objeto […]
A Liberdade, a cultura, a democracia e a justiça social são as nossas paixões.
A arte de criar histórias em prosa ou verso
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Banda
... mas também caminho por montes e vales!!!
Um espaço em permanente efervescência cultural!
O Idiota Prodígio
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Nascida em 2013, a Douda Correria tem uma linha editorial muito ténue, tão ténue que quase não se vê, uma linha que mais do que se ver pressente-se nos títulos que por paixão vai dando à estampa. No seu labirinto de afectos encontram-se autores de várias línguas, sendo o que de mais belo há neles a capacidade de inventar sua própria linguagem sem menosprezar a dos outros. É possível que nada disto faça sentido, é até desejável que nada disto faça sentido. Um cavalo alucinado também não faz sentido, no entanto galga e prossegue sob a espora. (Contacto: doudacorreria107@gmail.com - Facebook: https://www.facebook.com/doudascorrerias/)